Peço desde já desculpa pelos possíveis erros ortográficos, mas apesar da demora no comentário ao jogo, o texto foi escrito sem grande tempo para revisões.
Em menos de uma semana, a descrença por diversas vezes aqui anunciada transformou-se num estado de euforia próprio das mais inesperadas surpresas. Que é como quem diz, desde a vitória rotineira do Porto frente ao Nacional, muita coisa mudou no campeonato nacional de Xixa, e os dragões estão de regresso ao lugar em que mais nos habituámos a vê-los. Que o tenha feito da mais dramática das formas é também a consequência natural de uma competição que, apesar de longa, tem poucos adversários à altura e tudo para ser decidido ao sprint entre os melhores. Por sinal, num jogo mais emotivo do que bem jogado.
Por entre toda a verborreia natural em semana de clássico, houve uma troca de palavras entre treinadores que me chamou a atenção. Vitor Pereira afirmava enfaticamente que sabia perfeitamente como o adversário se ia apresentar no Dragão, e que contra o Porto, o Benfica jogava sempre de forma diferente. Do outro lado, Jorge Jesus respondeu que se o Benfica o fazia era porque sabia. Que sabia, ninguém tem dúvidas, mas a pergunta a que urge responder é: será que devia?
Fiel aos seus princípios independentemente das vozes que se façam ouvir contra, Pereira apostou novamente no seu futebol, nas suas ideias. Para o melhor e para o pior, a equipa organizada, que prefere ter a bola do que correr atrás dela, mas sempre com bastantes dificuldades em furar defesas adversárias foi assim até final do jogo, e mesmo num lance atabalhoado e trabalhado por dois suplentes que caiu do céu, não deixou de ser uma jogada de toque curto e desmarcações (ao contrário do balázio do meio campo que minutos antes Roderick Miranda havia tentado do outro lado) que surgiu o golo de uma vitória extremamente suada contra o único adversário capaz de ombrear com o Porto actual mas com índices karmicos sempre a bater no vermelho. A explosão chegou fora de tempo, activou a histeria num estádio a abarrotar de nervos, naquele que foi provavelmente o mais épico dos jogos de futebol nacional a que alguma vez assisti. O meu colega de blog fala de intervenção divina. Seja o que for, Kelvin, o puto trapalhão, atirou a contar para o fundo das redes. Um remate, um instante de inspiração que pode acabar por valer um título, assim a competência acompanhe a equipa em Paços de Ferreira, frente a um adversário de valor mas, sejamos honestos, de recursos limitados em comparação. Posto de forma simples: o FCP tem agora o dever de vencer a liga 2012/2013. Se não o fizer, não terá a competência com que se fazem os campeões.
Depois do jogo será fácil afirmar muita coisa, e a verdade é que o Benfica esteve a três minutos e um remate ao lado de poder sair do reduto do adversário com o campeonato praticamente no bolso. Não saiu, parece-me que por dois motivos maiores: primeiro, porque o adversário também joga e no futebol sabe-se que tudo pode acontecer a qualquer instante, e segundo pelas razões que me fazem por um lado reconhecer todas as qualidades nas ideias de Jorge Jesus e por outro não o querer para treinador da minha equipa. Confesso que me faz confusão que uma equipa como o Benfica, cujo ADN desde a chegada do mais estiloso mastigador de pastilha elástica do mundo é claramente ofensivo, mude de forma tão drástica a sua matriz de jogo em desafios maiores. Desde o recuo exagerado no campo (um ponta de lança, um lateral-esquerdo adaptado muito mais defensivo), à falta de interesse em atacar a baliza adversária exceptuando em lances de bola parada, até às inúmeras perdas de tempo (sintomático o salto sincronizado dos elementos do banco do Benfica a mandar Ola John atirar-se para o chão e ser assistido na fase final do jogo), parece-me acima de tudo contraproducente ensaiar toda uma filosofia e sistema de jogo ao longo da época, para na fase decisiva atirar tudo ao lixo, descaracterizar o seu futebol e jogar da mesma forma que um Olhanense (excepto, claro, com jogadores infinitamente melhores). De novo, é certo que esteve quase a resultar, mas não deixa de me parecer que o Benfica se pôs a jeito de lhe acontecer o que aconteceu.
A derradeira jornada da Liga terá emoção a rodos e ainda muita tinta poderá correr. Mas seja qual for o resultado final, dificilmente iremos voltar a ver repetidas as mesmas imagens que vimos no passado sábado. A glória e o desespero que também acompanham o desporto ao mais nível estiveram bem presentes nesses inesquecíveis 90 minutos de futebol. E porque quanto mais forte é o teu adversário, mais épica será a tua vitória, dou já os parabéns ao futuro campeão nacional. Porque seja ele quem for, será justíssimo, como sempre.