A partir do momento em que abandonou o Futebol Clube do Porto depois de ter levado o dragão a algumas das suas maiores conquistas, e mesmo tendo deixado algum mau estar, tornei-me seguidor acérrimo do Special One nas suas aventuras além mar. Durante 3 épocas raramente perdia um jogo do Chelsea, e mesmo no Inter (clube com o qual não simpatizo num campeonato pouco interessante) assistia aos jogos sempre que podia. Por dois motivos: o primeiro dos quais porque se sentia que Mourinho era mesmo especial, e estava prestes a conquistar grandes coisas, e no caso do Chelsea quebrar a hegemonia dos na altura todo-poderosos Man Utd e Arsenal; depois porque na altura dava gosto ver jogar as equipas de Mourinho - na altura já eram muito práticas quando tinham de ser, mas gostavam na maior parte dos jogos de assumir as despesas e... jogar futebol.
A certa altura, no final do seu percurso em Londres, o jogo do Chelsea tornou-se demasiado físico, aborrecido, e inglês. No Inter, a coisa pouco mudou, mas o contexto do ultra-táctico futebol italiano e uma equipa envelhecida parecia justificar um modelo de jogo menos vistoso e completamente cínico. Era Mourinho a adaptar-se ao calcio. Eu, simpatizante do Barcelona desde que me lembro, e da equipa maravilhosa do Guardiola em particular, ainda aplaudi a vitória suada dos italianos e o seu anti-jogo em Camp Nou nessa meia-final da Liga dos Campeões, porque acreditava no talento do treinador. No entanto, parece-me que foi aí que surgiu o problema: Mourinho ganhou tudo!
A passagem pelo Real Madrid, clube que a par de verdes e vermelhos mais asco me dá em todo o sistema solar revelou-se uma enorme desilusão. Não que alguma vez me visse a apoiar o clube, mas ansiava pelo menos para ver uma amostra do futebol construtivo que tinha sido imagem de marca nos seus melhores momentos no Porto e Chelsea. O trauma aconteceu quando percebi que o futebol merdengue se ia apoiar em correrias desenfreadas e chutões para a frente. O objectivo era claro: a obsessão era ganhar ao Barcelona, montando um plantel apenas para o fazer à base do físico e do atletismo e muito pouco do jogo de bola. Mesmo o recorde de pontos, de golos marcados e as vitórias sobre o Barça não disfarçaram esse incómodo que sentia ao ver um grupo de jogadores tão talentoso a receber ordens constantes para largar a bola o mais depressa possível. O resultado em 3 anos: 1 Liga, 1 Taça e 1 Supertaça, muito pouco para quem se afirma especial e tem um plantel com tanta qualidade. Mas a realidade é que poderia mesmo ter ganho nova Champions e mesmo assim nunca conseguiria ter a minha admiração.
Cheguei a pensar serem consequências do meu ódio pessoal ao clube que defendia, mas estes primeiros dias de Chelsea confirmam essa tendência para futebol reactivo e aborrecido. O jogo em Manchester e a Supertaça Europeia parecem voltar a não fazer juz à qualidade do plantel de que dispõe. Em recentes declarações, Mourinho referiu que "o futebol são números". Pois bem, não duvido que quando terminar a sua carreira os seus números sejam impressionantes, os melhores de sempre. Mas a continuar assim, duvido que no futuro alguém recorde as suas equipas pelo simples prazer de ver a bola. Eu sei que perdi a paciência, prefiro o futebol à matemática.
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